domingo, 23 de novembro de 2008

Dez chamamentos ao amigo
por Hilst

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Mais uma fonte de indeterminismo nas aventuras etílicas, essa veio da alma de Baudelaire, regada ao copo de cerveja de Paty:"Dans l'ardent foyer de ta chevelure, je respire l'odeur du tabac mêlé à l'opium et au sucre; dans la nuit de ta chevelure, je vois resplendir l'infini de l'azur tropical; sur les rivages duvetés de ta chevelure je m'enivre des odeurs combinées du goudron, du musc et de l'huile de coco.."
O tempo é algo complexo e paradoxal, mas que vez ou outra costumamos refletir e obter(ou não, na maioria das vezes) algumas respostas...um achado sobre essa reflexão, de Prigonine, que em O fim das certezas, cita Borges, explicitando essa ambivalência que nos angustia, mas que nos torna mais ousados pela vida:
"E, no entanto, negar a sucessão do tempo, negar o eu, negar o universo astronômico são desesperos aparentes e consolos secretos[...]O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre;é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo. O mundo, desgraçadamente é real, e eu desgraçadamente sou Borges. O tempo e a realidade estão irredutivelmente ligados. Negar o tempo pode parecer um consolo ou aparecer como o triunfo da razão humana, é sempre uma negação da realidade. A negação do tempo foi uma tentação tanto para Einstein, o físico, quanto para o Borges, o poeta...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Orgia musi-literária!!


Se existe uma orgia literária e musical necessária eis a dica:
Ouvir o album Sweet Freedom by Uriah Heep tomando um vinho branco e lendo Modernidade Líquida, de Zygmunt Bauman, aliás combinação perfeita! A modernidade líquida bem que poderia ser el mundo de tequilas! Mas essa modernidade líquida a que se refere Bauman, é uma das peculiaridades do mundo contemporâneo: inconstância e mobilidade.O mundo capitalista e individualista e repleto de possibilidades,segundo Bauman, assemelha-se a
uma mesa de bufê repleta de tantas delícias, que nem o mais delicado comensal
poderia esperar experimentar de todas.
Aliás, consumir não é fazer escolhas!Fazer boas escolhas no mundo contemporâneo é algo muito mais difícil do que se possa imaginar,e pode acarretar consequências inimagináveis, pois na vida organizada em torno do consumo o indivíduo orienta-se por desejos e quereres ilimitados, tornando as relações e objetos descartáveis....

Definição indefinida de La Curachacha

Desde os tempos remotos a humanidade procura estabelecer conexões, encontros e por conseguinte as respostas aos seus anseios. Diante dessa realidade, chegamos ao ChaCha ("Cha” significa busca em chinês).
O grande diferencial está na intervenção humana no resultado da sua busca. Em outras palavras, o ChaCha é um sistema de busca intermediado por gente que procura entender o que a gente quer para uma resposta que a gente precisa. Cura (em italiano, que dizer "cuidado"), na definição de Boff (1999), em seu livro "Saber Cuidar", é algo que se encontra na raiz de todo o ser humano; é algo que faz parte da constituição humana. Como nos diz Boff: "o ser humano é um ser de cuidado, mais ainda, sua essência se encontra no cuidado. Colocar cuidado em tudo o que projeta, eis a característica do ser humano" Então,La Curachacha é a busca pelo cuidado.

"A um homem nada se pode ensinar. Tudo o que podemos fazer é ajudá-lo a encontrar as coisas dentro de si mesmos." Galileu

Assim, Boff (1999) coloca, que a definição de cuidado contêm em si, dois significados: um significado relacionado com o cuidado com o outro, que é a atitude de zelo, de atenção para com o outro; e um significado de preocupação, de inquietação do próprio sujeito que cuida, porque se sente envolvido com o outro.

"o cuidado é o permanente companheiro do ser humano. Quer dizer: o cuidado sempre acompanha o ser humano porque este nunca deixará de amar e de se desvelar por alguém (primeiro sentido), nem deixará de se preocupar e de se inquietar pela pessoa amada (segundo sentido)." (Boff, 1999).
O ser humano é um ser que tem sentimentos, inclusive é isso que o diferencia da máquina. É a capacidade de envolver-se, de afetar e ser afetado pelo outro, que o torna humano. É esse sentimento, que se chama cuidado e se situa na lógica do afeto. O cuidado pressupõe uma relação, e essa relação não deve ser de domínio sobre o outro, mas de con-vivência. O cuidado se dá na "inter-ação e comunhão" (Boff, 1999: 96). É a partir do cuidado com o outro, que o ser humano desenvolve a dimensão de alteridade, de respeito, valores fundamentais da experiência humana. Assim, o cuidado se dá numa relação afetiva, e engloba o modo de ser do ser humano, em seus laços afetivos.
"Dar centralidade ao cuidado não significa deixar de trabalhar e de intervir no mundo. Significa renunciar à vontade de poder que reduz tudo a objetos, desconectados da subjetividade humana. Significa recusar-se a todo despotismo e a toda dominação. Significa impor limites à obsessão pela eficácia a qualquer custo. (...) significa colocar-se junto ao pé de cada coisa que queremos transformar para que ela não sofra, não seja desenraizada de seu habitat e possa manter as condições de desenvolver-se e co-evoluir junto com seus ecossistemas e com a própria Terra (...)." (Boff, 1999: 102).

É isso aí, povos e povas!Nesse delírio filosófico-literário-etílico-gastronômico que se pretende encontrar La Curachacha! Bienvenue!